Entrelinhas "Entre Aspas"

Mulheres que bebem regularmente refrigerantes a base da planta cola, como a Coca-Cola e a Pepsi-Cola, podem estar aumentando seu risco de ter osteoporose, segundo um estudo publicado pela revista American Journal of Clinical Nutrition. A pesquisa envolvendo 2,5 mil pessoas, entre homens e mulheres, revelou que apenas este tipo de refrigerante está ligado à baixa densidade mineral óssea em mulheres, independentemente da idade ou de quanto cálcio elas ingerem diariamente. Outras pesquisas também apontam que o consumo de Pepsi-Cola, Coca-Cola e similares é prejudicial aos ossos, porque substitui o leite na dieta das pessoas.

Para endocrinologista Daniela Hueb, os refrigerantes a base de cola sem dúvidas são considerados um dos fatores contribuintes para a osteoporose, além do tabagismo, sedentarismo e o envelhecimento, principalmente nas mulheres após a menopausa.

No Brasil, um dos fatores mais estudados envolvendo a osteoporose é o declínio das atividades endócrinas ou hormonais. Jovens na faixa de 20 anos de idade, fase em que os hormônios estão em atividade máxima, não chegam apresentar nenhuma variação. Já, a partir dos 40 anos, essas taxas caem em até dois níveis em relação à juventude. “Como efeito, começamos a engordar com mais facilidade; os cânceres, as artrites e as artroses começam a aparecer pelo enfraquecimento do sistema imunológico; doenças do sistema nervoso (Alzheimer e Parkinson), queda da densidade mineral óssea e, ainda, perda progressiva da virilidade e da capacidade de reprodução”, afirma Hueb.

Do ponto de vista médico, a osteoporose não é considerada uma doença e sim efeito progressivo do envelhecimento, atingindo aproximadamente 20% da população feminina acima dos 50 anos. O termo osteoporose significa “osso poroso”, diagnosticada somente se houver fraturas ósseas, afirma a especialista. A partir dos 30 anos começa a surgir o primeiro declínio da densidade mineral óssea, em média de 1,5% a cada década. Quando a mulher atingiu a menopausa, esse decréscimo salta para 5% a cada década. Nos homens, esse salto começa um pouco mais tarde, a partir dos 70 anos.

De acordo com a endocrinologista, cada vez mais aumenta o número de pessoas que deixam de consumir leite para ingerir refrigerante. “Principalmente as mulheres que fazem muita dieta, excluem o leite para ingerir refrigerante. Não que o leite seja um alimento excelente, mas ele é um dos mais riscos em cálcio. Uma das explicações para essa mudança pode ser porque a maioria das pessoas apresenta dificuldades em digerir o seu açúcar natural (a lactose). Os sintomas dessa dificuldade são o estufamento, gases, intestino preso e até rinite alérgica crônica. Às vezes, apenas eliminando o leite e seus derivados da dieta, esses sintomas desaparecem”, revela a especialista.

Ainda segundo a endocrinologista, a mídia não tem cumprido totalmente o seu papel de informar. “A população em geral vem consumindo cada vez mais refrigerantes e outros produtos industrializados. A sociedade não é informada sobre os perigos desses alimentos, assim como fazem com as campanhas contra o tabagismo. A mídia enaltece e cultua a magreza, como padrão de beleza. No entanto, além de causarem a osteoporose, engordam. Acho ainda que o governo não esteja preocupado em passar esse tipo de informação, inclusive porque essas empresas visam muito lucro para a economia dos países, já que são campeãs em vendas no mundo, como por exemplo, a Coca-cola”, analisa.

A Coca-cola é o refrigerante preferido da adolescente Milena Rodrigues, de 16 anos. “Em casa, meus pais compram de fardo, não deixam faltar. Eu adoro esse tipo de refrigerante e não abro mão. Os meus outros 3 irmãos também bebem Coca todos os dias; se deixar, o mais novo, de 14 anos, bebe 2 litros, sozinho, só uma na hora do almoço”, conta.

Já na casa da executiva Daniela Fernandes, de 38 anos, o consumo de refrigerante é controlado. “Eu tenho dois filhos e a mais nova, de 14 anos, adora Coca. Eu já tentei mudar a realidade em casa, mas foi em vão. Comecei a substituir o refrigerante por suco natural, mas a Gaby disse que se eu não comprasse coca-cola, ela ia beber na cantina da escola. Resultado: em casa, se consome 4 litros de Coca, diariamente”, revela a executiva.

Os cuidados começam na infância

Para Lígia Carvalho nutricionista é fundamental que os pais não só orientem seus filhos sobre o certo e o errado, mas que também incentivem a não consumirem principalmente alimentos industrializados com freqüência. “A reserva de cálcio nos ossos começa na infância e precisa ser mantida durante todas as fases, da adolescência à vida adulta, pois com as reservas prejudicadas, é na terceira idade que os problemas começam a surgir, como a osteoporose”.

Em especial, normalmente é encontrada nesse tipo de refrigerante uma substância chamada de sódio podendo ser responsável também pelo aumento da pressão arterial ou pelo aumento de peso. “Muitas vezes os adolescentes substituem a água pelo refrigerante e por isso podem ocorrer desidratação e sintomas gástricos como dilatação do estômago, azia, dificuldade na digestão para outros alimentos”, afirma Carvalho.

Atualmente, muitas pessoas substituem o leite e a água pelo refrigerante, principalmente pela coca-cola e a pepsi-cola, além daquelas pessoas que ingerem como líquido em suas dietas somente o refrigerante, causando ainda vício ou dependência, afirma Carvalho.

Para a nutricionista o ideal mesmo é ser um consumidor consciente e orienta principalmente aqueles que sentem dificuldades em trocar definitivamente o refrigerante pelos sucos naturais. “Prefira restringir aos finais de semana, em eventos ou festas, consumindo nestas ocasiões moderadamente. Não acho interessante um consumo diário desta bebida, por isso não há uma recomendação específica, mas se for consumir diariamente, evite o consumo durante refeições maiores como almoço e jantar”, alerta Carvalho.